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Muito além da soja: uso sustentável do Cerrado é estratégico
Bioma é celebrado em seu dia, mas segue sob pressão do desmatamento
Radioagência Nacional - Por Sayonara Moreno 
Publicado em 11/09/2025 16:31
Tecnologia
© Adriano Gambarini/WWF Brasil/Divulgação

Onze de setembro é o dia do segundo maior bioma da América do Sul: o Cerrado, que ocupa um quarto do território brasileiro.

Berço de uma fauna e flora diversas, o Cerrado é a savana tropical com a maior biodiversidade do mundo. Muitas espécies que vivem aqui não existem em nenhum outro lugar. O bioma abriga 5% de toda a biodiversidade do planeta.

Uma das áreas de proteção do Cerrado é a Reserva Natural Serra do Tombador, localizada na cidade de Cavalcante (GO), região que abriga a Chapada dos Veadeiros. A bióloga da reserva, Mariana Vasquez, lembra que o Cerrado não é só a soja produzida pelo agronegócio. Segundo ela, há riquezas nativas que podem contribuir com o desenvolvimento econômico de pequenos produtores.

"Tem espécies ali, como o pequi, o baru, a mangaba, que são frutos do cerrado e têm um alto valor comercial. Muitos povos do cerrado e pequenos produtores rurais praticam esse ativismo com essas espécies do cerrado e, de forma sustentável, mantêm o cerrado em pé (...) Além da soja, temos no próprio bioma espécies muito valorizadas que podem, sim, trazer apoio à economia."

Apesar de tanta riqueza e importância para a vida, o Cerrado segue sendo o bioma brasileiro mais ameaçado. Em 2024, superou a Amazônia como o mais devastado do país, segundo levantamento do MapBiomas.

Leonidio Maia é morador da comunidade quilombola Kalunga, em Cavalcante. Além de defender a preservação do Cerrado por senso de pertencimento e consciência ambiental - ensinado pelos ancestrais -, ele conta que tem no bioma a fonte de sustento da família.  

"O cerrado é nosso é belíssimo. Tanto na fauna, flora, riquíssimo em biodiversidade, nascentes, muita vida. E hoje é também uma boa parte da fonte de renda para as pessoas. Inclusive, meu sustento vem do cerrado. Eu trabalho tanto com agroextrativismo, artesanato e com a maioria das cachoeiras. Como sou guia turístico, o cerrado está sempre presente na minha vida".

A professora do Departamento de Ecologia da Universidade de Brasília, Mercedes Bustamante, destaca que o Cerrado é essencial para a segurança hídrica e alimentar do Brasil. Mesmo assim, já perdeu metade do seu bioma original.  

"Já perdeu 50% de sua cobertura original. Adicionalmente, está também sob a pressão das mudanças climáticas. O cerrado vem se tornando mais quente, mais seco. Por isso, é essencial que o Brasil olhe com cuidado para esse bioma e invista de forma robusta e consistente em políticas públicas para sua conservação e uso sustentável."

EM 2023, o governo federal lançou o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento no Cerrado. A ideia é conter a destruição por meio de diversas ações. Mas, segundo a bióloga Mariana Vasquez, algumas normas do Código Florestal ainda deixam brechas para o desmatamento. 

"Quando o cerrado é desmatado você perde também a produção de águya para uim mportante serviço ecossistêmico que ele presta. A gente teve uma redução de 27% na vazão dos rios do cerrado. Justamente pelo impacto desse desmatamento que parte é feito de forma irregular e parte é feito de acordo com o código florestal. Então, por exemplo: as propriedades dentro do bioma, de acordo com o código florestal, podem ter até 80% de sua área desmatada para a produção". 

 Essa perda de vegetação afeta diretamente a água. O Cerrado abriga as nascentes das principais bacias hidrográficas da América do Sul: Amazônia-Tocantins, São Francisco e Prata. Por isso, o bioma é considerado a “caixa-d’água do Brasil”. 

Fonte: Radioagência Nacional
Esta notícia foi publicada respeitando as políticas de reprodução da Radioagência Nacional.
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